segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Tv 2.0: Façam suas apostas!!

Silvia Angerami - Revista Teletime
A TV 2.0 muda não só a forma de assistir à programação, como também os modelos de negócios e a própria cadeia de valor. Cada um dos players envolvidos nas diversas plataformas tecnológicas de TV em dispositivos móveis e na rede fixa aposta em um conceito diferente de interatividade, e em conteúdos mais ricos, capazes de atrair a atenção do público consumidor. E há ainda outro componente nessa discussão, que é a IPTV, plataforma que na Europa já é uma realidade, mas que no Brasil ainda precisa de regulamentação. Mesmo assim, o mercado não está de braços cruzados, ao contrário, surgem inúmeras iniciativas, cada uma buscando antecipar o futuro. Com a adoção dessas novas plataformas, a competição entre operadoras de TV e de telefonia que oferecem radiodifusão deve esquentar ainda mais. Para Jesper Rhode, vice-presidente de multimídia da Ericsson, "o conceito de TV 2.0 está inflacionado, ou seja, está sendo designado para identificar qualquer tipo de iniciativa diferente da TV de massa, unilateral. Nosso entendimento é muito claro, TV 2.0 é o conceito de conteúdo gerado pelo usuário", afirma ele, e traça uma cadeia evolutiva para mostrar as diferentes fases da TV: de massa, por assinatura, pay-per-view, VoD e TV 2.0. Usuário na produção No caso da IPTV, no ponto de vista de Rhode, o que muda é a transportadora. Mas quando se fala em TV 2.0, qualquer pessoa poderia contribuir com o conteúdo. A Ericsson trabalha com isso de várias formas. Uma delas é o aplicativo de TV interativa e conteúdo gerados pelo usuário por meio da solução Me-On-TV da empresa, em nível global, em parceria com a Endemol International. Na Holanda, a plataforma da Ericsson permite que os telespectadores telefonem e interajam com os participantes do programa Big Brother, por exemplo. O maior precursor da TV 2.0 é a largura de banda suficiente. Ela já está dobrando a cada ano, em média. "Em pouco tempo a TV de alta definição será algo mais normal aqui no Brasil também", acredita Rhode. Essa nova realidade, segundo ele, cria demanda do usuário final e as operadoras acabarão atendendo. Quando se fala em conteúdo em HDTV, logo se pensa em interatividade. Mas as emissoras de TV ainda estão engatinhando nessa questão, tentando aceitar a idéia de que o investimento é necessário e inevitável. Mas enquanto puderem adiar o desembolso, é isso que farão. Ao menos na opinião de Humberto Candil, diretor geral dos canais Band, que compara a importância dessa mudança à da TV preto e branco para a colorida, na década de 70." Teremos que produzir, captar e editar em alta definição," admite Candil. João Mesquita, diretor do Telecine, cita outra variável nessa equação: "A questão é quanto o telespectador está disposto a pagar pela qualidade da HDTV". As dúvidas que assaltam o executivo da HBO, Gustavo Grossman, também são igualmente inquietantes: "Precisamos analisar se o mercado brasileiro está pronto para a TV de alta definição e como o País se posiciona na América Latina." Mas, por outro lado, ele vê o HDTV como o padrão considerado denominador comum, dentro de dois a três anos. Pouco a pouco a definição standard vai desaparecer. Planos secretos Porém, nenhum dos executivos revela seus planos para dar à TV por assinatura o diferencial em relação à TV aberta com alta definição. Nenhum deles comenta, tampouco, os desafios, custos e modelos de negócios que pretende explorar. Para a professora do curso TV Digital: a reinvenção da TV, da ESPM (Escola de Propaganda e Marketing) e profissional do canal ESPN, Ana Lucia Fugulin, "a TV digital e a interatividade são diretamente relacionadas. O público quer interagir. Ninguém mais quer ser passivo em frente à TV, é um movimento sem volta, não adianta ter só qualidade de som e de imagem," afirma. Além da legislação, que ainda não foi definida, ela acha que também falta um modelo de negócios que faça sentido para os players. Marcelo Miranda, diretor de aquisição e novos negócios da Sky, coloca o dedo na ferida ao admitir que o que atravanca a adoção da interatividade pelas emissoras é o fato de que ela não traz receita. IPTV na Espanha O Imagenio, serviço de IPTV da Telefónica de España, está disponível aos seus 4,5 milhões de assinantes de banda larga por ADSL no país europeu. Os assinantes recebem um pacote de canais por apenas 3 euros/mês (além da assinatura da banda larga). O pacote completo custa a partir de 43,9 euros mensais. A operadora não cobra pelo set-top box. A oferta conta com dois pacotes iniciais de conteúdos: Imagenio Básico (30 canais) e Imagenio Familiar (60 canais), incluindo 15 canais de áudio, futebol em pay-per-view e um conjunto de serviços de informação e comércio eletrônico. O slogan usado para divulgar o serviço é A TV pessoal, sem horários. Existem duas modalidades de aquisição do serviço: Duo (TV e chamadas telefônicas) e Trio (TV, chamadas telefônicas e ADSL). Em ambas, o usuário pode escolher o pacote básico ou familiar. O Imagenio tem hoje cerca de 570 mil assinantes na Espanha. A oportunidade da plataforma IPTV na Europa é estimada em 1,9 bilhão de euros em 2008 (equivalente a R$ 56,2 bilhões), valor que chegará a 5,7 bilhões de euros em 2013 (R$ 137,4 bilhões), relata Jan Ten Sythoff, gerente da Pyramid Research (EMEA - Europa, Oriente Médio e África). Dados da companhia indicam que quando se fala de crescimento das plataformas, IPTV está no topo da lista, seguida por voz sobre IP, transmissão de dados por telefonia móvel, banda larga fixa e telefonia celular, nesta ordem. A empresa de pesquisa identificou também a receita de sucesso de IPTV: uma combinação de preços atrativos com uma velocidade cada vez maior de banda larga, além de novas características (como a interatividade) e a inovação. "A ampliação da adoção de fibra óptica é outro fator para o sucesso: o Reino Unido investiu 1,5 bilhão de libras (R$ 44,4 bilhões) em fibra óptica. Na Alemanha, a fibra óptica está presente em 98% das casas. O conteúdo único oferecido via IPTV e os atributos de interatividade estão atraindo usuários até mesmo do competitivo mercado de TV paga," afirma Sythoff. Cenário local Enquanto isso, no Brasil, a operadora espanhola mostrou ao público brasileiro, durante a ABTA, em agosto, como o Imagenio funciona. Foi montado um cenário em que o computador estava no centro de armazenagem de todo o conteúdo. Para a companhia, o acesso à web por fibra óptica é mais rápido e essencial para unir todos os produtos. Na prática, a iniciativa mais similar ao Imagenio que temos é o caso da Brasil Telecom com o Videon, serviço lançado no final de setembro de 2007. Por enquanto, está disponível para comercialização apenas em Brasília. O Videon oferece conteúdo audiovisual por banda larga na TV do cliente, na forma de vídeo sob demanda (VoD, em inglês), com mais de mil opções de conteúdo. A programação, feita em parceria com provedores nacionais e internacionais, fica à disposição em uma biblioteca virtual. É possível voltar, avançar, pausar e parar o que está assistindo e voltar a ver depois. Novas funcionalidades interativas estão em estudo, como jogos on-line, mensagem instantânea e acesso à conta bancária. Para o diretor adjunto de desenvolvimento de negócios e vídeo comunicação da BrT, Carlos Watanabe, "TV 2.0 e IPTV são sinônimos e ainda não há outra iniciativa como a de sua empresa no Brasil. Fomos os primeiros e ainda somos os únicos." "O triple play (TV, telefone e banda larga na mesma infra-estrutura) é o caminho natural para as empresas de telecomunicação," opina Watanabe, apontando a questão regulatória como o entrave que não permite a ampliação da oferta do produto. "Nossas expectativas são grandes. Mas, para oferecermos pacotes, como outras operadoras de TV por assinatura em todo o mundo, temos plena convicção de que poderemos fazer isso somente após a aprovação do projeto de lei que está em tramitação no Congresso, " afirma ele, referindo-se ao PL 29 (projeto que cria novas regras para o setor de TV paga). A empresa aguarda o momento de pôr em prática a interatividade. Esta é uma possibilidade, pois, por definição, o produto é bidirecional, mas ainda não é possível fazer upload de conteúdo por razões técnicas, pela dificuldade de catalogar e de garantir a qualidade do material. A BrT, porém, deve em breve defrontar-se com a primeira competidora. A GVT anunciou que a Ericsson e a Cisco realizarão projetos-piloto para a operadora, que escolherá o integrador de sua plataforma de IPTV, com base em resultados. Esses projetos serão colocados em prática com cerca de 300 clientes da GVT entre o final deste ano e início do próximo. O prazo de lançamento do serviço e o preço a ser adotado dependem ainda da aprovação do PL 29." Queremos ter o projeto finalizado e pronto para ser lançado assim que a discussão em torno do PL 29 estiver concluída," planeja Ricardo Sanfelice, gerente de marketing de produtos da GVT.

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